Tão grande como os maiores da Europa

Lisboa, 22:45. Saímos de Alvalade frustrados com mais uma derrota. No recato do carro, ouvíamos a verdade nua e crua dita aos microfones da Antena 1. A verdade que teimamos em não querer acreditar e pensamos que isto é tudo um sonho. Estamos a 18 do 1º, a 9 da Champions, a 7 do Rio Ave, a 6 do Paços, o Estoril a 4, temos mais 2 pontos que o Beira Mar e mais 4 que o último. O acérrimo comentador repete vezes sem conta: na frente está o clube A e B, mas atenção que o A tem melhor diferença de golos! Então é 1º! Incrível.

Mas caiamos na real. Com uma vitória apenas podemos subir um lugar, e a escada para os lugares de cima apenas se galga com uma série de 2 ou 3 consecutivas, coisa que, convenhamos, não acreditamos que possa acontecer tão cedo. A situação é grave, e não vai lá com balões de oxigénio.

A meio da ponte recebo um telefonema. O meu filho Luis em lágrimas. Ele, com quem falara ao intervalo e rejubilava com o golo de Wolfswinkel, o seu ídolo, que “marcou com o pé e deu uma volta no ar!”, agora chorava a derrota, não conseguindo entender porque é que perdemos. Confesso que senti um misto de tristeza mas também um grande orgulho! Filho, este não é o nosso Sporting. A história que te conto do menino que pediu dinheiro ao avô para fazer um clube, que prometeu torna-lo grande, tão grande como os maiores da Europa, não é esta. Isto é apenas um capítulo mau. O pior. O pai com a tua idade passou por o que tu passas agora. Só no 2º ano da faculdade consegui festejar o 1º título. Foram anos de luta, de argumentação contra os colegas gozões, a quem muitas vezes mandei ir gozar com o caralho, (não faças isso ainda, é falta de educação. Só a partir dos 12 anos terás direito a aplicar esse palavreado), e eles não merecem. No fundo são uns tristes que ultimamente não têm tido quase nada para festejar, apenas estes joguinhos e estes bate boca do qual saem sempre com os peitos de pavão, inundando o facebook e massacrando os telemóveis com as piadas de ocasião. Porque festejar realmente, zero.

O nosso clube filho é o mais bonito. É sempre o maior. Aquele que mesmo ganhando menos nos emociona, nos seduz. Nos faz correr atrás e sim, chorar por vezes. Tanto quando somos campeões ou levantamos a taça de Portugal, como quando perdemos finais europeias ou sucumbimos em casa. Mas é sempre o nosso clube! Aquela camisola verde e branca será sempre a que nos guia, mesmo que nos gozem, que nos apontem o dedo, ou que simpaticamente nos batam no ombro e digam com ar sarcástico “até queria que vocês ganhassem”. Nunca te disse que era fácil ser do Sporting. Nunca te menti quando te disse que havia muitos meninos de outros clubes. Mas aquilo que quero que saibas é que o Sporting é muito mais do que isto. É um clube com história secular, com páginas e páginas de glória nos mais diversos desportos. Com records que persistem ao passar dos anos, desvalorizados por muitos mas que são inegáveis e inigualáveis! Com a cor mais bonita, o animal mais imponente no símbolo, e tanta, tanta coisa boa que nos enche de orgulho e nos faz dar a cara sempre, sem nos escondermos, e sem aparecermos apenas nos bons momentos, de cachecol com bolas de naftalina, endeusando os ídolos numa semana e chamando-lhes tudo na semana seguinte. Precisamos filho, é de alguém que explique esta paixão aos meninos que jogam com a verde e branca. Que alguém explique que para nós, como ontem o pai viu no estádio escrito “esta não é a nossa camisola, é a nossa pele”. Eu a ti passo-te essa mensagem. Bem demais, pois hoje até choras-te. Mas como te disse, o futebol é assim: umas vezes ganha-se, outras vezes perde-se.

Ontem perdemos e ultimamente temos perdido mais vezes. Mas voltaremos a ganhar. Voltaremos ao nosso lugar, voltaremos a sorrir, voltaremos a verter as lágrimas, e deitarás muitas acredita, de felicidade! E nesse dia estaremos juntos. Dando por bem empregue o tempo que passamos em baixo, a perder, a levar nas orelhas, pois assim terá ainda mais sabor. Com civismo, como sempre, mas com um sorriso, avisando-te já que nesse dia muitos dos amigos que agora nos achincalham não estarão presentes. Estarão em casa, como sempre. Caladinhos, de cabeça grande, e com a velha máxima “Eu até nem ligo à bola”. Isto é como as marés. Vão e vêm. Por vezes vêm cheias de merda, outras vezes com o tom cristalino convidando-nos a um banhito feliz. E na manhã seguinte lá cantámos: E o Sporting é o nosso grande Amor! E voltámos a sorrir os dois.

Cajó