A NOITE EM QUE DISPENSEI O MEU
CHECK UP ANUAL AO CORAÇÃO
O Sporting na Europa tem sempre muitos amigos.
Daqueles que depois de ganharmos dizem “há pois, são portugueses, eu puxei por
vocês”, mas que quando perdemos são os primeiros a mandar a smszita da ordem
“coitados, para o ano logo há mais”etc. Confesso que não gosto dessa
solidariedade quase sempre falsa, pelo menos à minha maneira de ver. Coerência,
digo eu. Assobio-os ao domingo e depois quero que ganhem à 4ª? Nunca… Assisti
ao vivo a muitas jornadas de glória em Alvalade. O Cadete 2-Celtic 0, Caneira
(cruzes canhoto) 1 Inter 0, 4-1 ao Newcastle ou mais recentemente Xandão 1 City
0. Estive também em noites negras com os poderosos Casino Salzburgo, Vickings e
Gensierbirligi (será assim) e Bayern Munich a ajudarem-me a fortalecer ainda
mais o meu Sportinguismo. Mas tirando a noite de Alkmar, onde o moço de Moura,
Miguel Garcia, me fez atingir o clímax no último segundo (15 dias depois é que
foram elas…) não tive uma noite como a de 5ª passada! Confesso que fui
preparando o terreno dizendo para fora (técnicas de Mourinho) que era difícil,
que eles jogam muito, que até pode ser, mas é complicado, mas no meu íntimo
tinha a secreta esperança de que íamos passar! Engalanei a sala, os jantares
foram mais cedo, e coloquei-me com os meus 2 filhos no sofá! Cachecol no colo,
blusa com o patrocínio Nissan para aí com 13 anos a servir de cobertor para o
mais novo, sala à meia luz, olhos no ecrã, vamos lá a isto! “Temos de conseguir
aguentar a 1ª meia hora”. “O Dzeko está no banco. Nem titular és, palhaço!”, mas
o Pereirinha é titular. Equilibra as coisas portanto… O duelo com o Balotelli
vai ser engraçado… Entrámos bem no jogo. Esticamos 1 ou 2 vezes com perigo. Os
adeptos fazem-se ouvir. Matias sofre penalti! Cachecol pró cacete, Miguel
assustou-se, palavrão contido dada a média de idades na sala. A repetição
confirma, e começa o show de 2 comentadores, se assim se podem chamar. Ainda
olho para o canto superior direito da televisão mas não, não estava lá Benfica TV,
era mesmo SIC. Matias como que por vingança faz um golão, e o Sr. Izmailov
(isso de chamar Marat como se fosse o trolha da obra por cima da rua para mim
não vale) faz mais uma magia e diz no seu português atabalhoado “agorra faia
tambien essa miúdo giro”. 2-0. 2-0!!!!! O Miguel ainda não tem 3 anos. É do
Sporting mas ainda não sabe bem disso. Mas como que por magia diz-me “pai,
quero ouvir o Jubas”. Momento alto. Na televisão de apoio já soa “Jubas,
coração de leão.”. O Luis de 5 está em êxtase. Tornou-se fã do Xandão por ter
feito um golo “melhor do que o Ronaldo”. 2ª parte descansada, digo eu. “ Eles agora arriscam tudo e ainda podemos
marcar mais uma bolinha”. Mas na minha terra diz-se “GARGANÊRO”!!!. E morri por a boca… 2-1, 2-2, 3-2 aos 81…
Ainda falta uma eternidade… O Miguel já foi dormir com a mãe (lampiã até há 7
anos, altura que se casou comigo) e é o Luis que me acompanha no meu
sofrimento… Levanto-me, dou a volta ao sofá. Salto com o Xandão em cada canto,
alivio de pé direito, de pé esquerdo, olho para o tempo, protejo a bola na
bandeirola de canto com o Jeffren, dou o pau que o Carrillo devia ter dado
nessa jogada mas não deu, e o jogo termina!!! Não. Foi canto. O jogo de Alkmar
veio-me à ideia… Xandão corta, Bolatelli coloca na área, Patrício vai e fica e
não vai e deixa de ir, Hart cabeceia…. e GOOOOLO grita um tal de Paulo Garcia!
E eu a ver a bola fora. Será que vi bem????? “Outro canto”, penso, mas o ar de
desilusão do Keeper do City, em grande plano faz-me acreditar que terminou!!!!
E grito! E festejo. E exulto!!!! E o Luis quando me agarro a ele pergunta “mas
perdemos pai…”. Filho, vais aprender a perder mais vezes do que queremos, por
isso desfruta! Perdemos mas ganhámos!!!! E o Miguel aparece na sala. De chucha,
acordou com os meus gritos. Entra e pergunta “Posso ver o Jubas?”. E na noite
europeia mais louca desde a final da Liga Europa com o CSKA, dispensei por este
ano o meu check up anual ao coração.
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