O Circo Cardinal
Na Páscoa fui ao
circo. Estava cá em Beja o circo Chen e para quem tem 2 moços é difícil passar
numa rua da cidade e não encontrar um cartaz com a cara de um leão, um palhaço,
ou com uma moçoila a beber sumol por entre as pernas, enquanto lê o jornal e
passa a ferro com a cabeça virada para a televisão. É um espetáculo bonito.
Daqueles feito por gentes humildes que passam rapidamente da bilheteira para a
venda de pipocas, depois para o arame, e mal descem correm para desmontar a
jaula dos animais ferozes.
Na semana passada foi
montado outro circo em Portugal. Deram-lhe um nome de família famosa do meio,
Cardinal! Havia um leão também. Daqueles que sempre rugiu por fora, dos que
sempre me pareceu que nunca morderia mas do qual tinha sempre a ressalva de não
confiar muito. O olhar do Leão é normalmente feroz e como nos que andavam na
pista, nessa bela tarde, uns tinha um olhar mais dócil, outros mais
desconfiados. Mas todos são leões, e o do circo Cardinal também o é. Mas
pronto, eu escolheria sempre outro para o número em que colocaria a cabeça na
sua boca. No circo Cardinal existe também o contorcionista. Neste circo não é
uma menina linda, é um senhor já de mais idade, com cabelo branco. Ficou famoso
por ter, com a sua idade, mostrado ligeireza a fugir da confusão, numa certa
noite em que deveria ter subido a um certo palco, num outro circo que me encheu
de vergonha. Pois o contorcionista do circo Cardinal consegue ter a cabeça a
dizer que defende o Leão, o braço esquerdo a escrever um Comunicado em que diz
que aceita a suspensão, a perna direita a dizer que decidiu aceitar a
reintegração, e a perna esquerda a mandar abrir um inquérito interno. O braço
direito, esse, parece-me que está sempre agarrado ao leão. Ou pelo Leão? Não
sei. Com tanta volta, e a posição já de si delicada para uma menina de 50 kilos
(que nos faz ter sonhos eróticos quando a vemos e pensamos “só faltava ter uma
pega ali nas costas que pegava nela assim e levava para casa”) quanto mais para
um senhor já na casa dos 60, seria normal que se nem os olhinhos mexem, quanto
mais a boca. E fechámo-la. Decretamos o termo que a Liga Europa diz ao Elias em
todos os jogos deste ano do Sporting: Black Out. No fim do circo, normalmente o
mais famoso de todos. O que define se o espetáculo nos vai na memória ou se
achamos que o dinheiro foi mal gasto, e que normalmente é a peça fundamental de
todo o processo: O PALHAÇO. No circo que fui ver com os meus filhos foi o que
eles mais gostaram. No circo Cardinal curiosamente o Palhaço é o que ninguém
liga. O que ninguém fala. O que ninguém se preocupa em ouvir ou em confrontar.
No circo Cardinal o Palhaço continua a actuar. E bem, pelo que dizem! Até vai
ao circo Europeu, como prémio de nos fazer tanto rir. E numa semana em que
conseguimos bater um rival, onde estamos nas meias finais de uma competição
europeia (e contra um adversário estrangeiro ressalve-se), num jogo onde
poderiam estar por exemplo o PSG, o Manchester City, o Manchester United e a
Lázio, só para citar alguns que caíram aos pés destes 2 semifinalistas,
monta-se o circo bem no meio da praça. Os cartazes ao que se diz estavam
montados desde Novembro, mas à cidade o circo chega cirurgicamente numa 4ª
feira após uma 2ª feira de festa. Estranho no mínimo. Mas como em qualquer
circo, o que esperamos é que os palhaços nos façam rir, que os contorcionistas
velhos sejam aconselhados por alguém mais jovem a não fazerem tantas manobras,
e que, claro, se algum leão não tem o pelo brilhante, os dentes lavadinhos e
faz cócó onde não deve, também devemos esperar que saia de cena! Sem medos, que
até o Peyroteo deixou de jogar e continuamos a ganhar.
Adenda: 5ª feira
todos a Alvalade
Cajó
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